07 maio, 2012

Cair? Cuir? Kiwir? Kiwi? Nada disso!, Qüir, o novo sintoma da Lisboa gay emancipada.

Olá malta cobarde!

Preciso urgentemente de tirar isto de cima dos meus ombros: Falemos do lançamento da Qüir e do seu video de promoção espectacular [sarcasmo].


Qüir as in, o projecto gay que mais voltas e reviravoltas deu nesta pequenina comunidade. Desde google groups embrionários disfuncionais, a ideias cujos criadores ficaram esquecidos no tempo (kwir, anyone?), à substituição de um fracasso de mercado chamado Com'Out que agora - porque tem uma côr diferente? - vai ser finalmente um espectáculo de vendas. Sim! A nova revista gay lisboeta chegou. Viva a QÜIR (de queer ou de kiwi, não temos bem a certeza).

E é claro que o tom vai ser destrutivo. Tinha graça de mais alguma forma? (:

Anyway.

Ponto 1, Com'Out.

Lembram-se desse primor de publicação que nos abrilhantou a vida há uns anos? Oh!, a inovação!, a coragem!, a ousadia! (o horror editorial! o fracasso! a morte!)

A Com'Out falhou, mas a Qüir e o seu acento irritante não vão falhar. Porquê? - perguntam vocês inquietos. Porque teve divulgação no Facebook e é roxa? Porque tem um video com dois gajos a trocarem olhares na rua? Porque veio no seguimento do milagre do Pingo Doce?

Ninguém sabe ainda; mas nós explicamos.

A Com'Out falhou - perdoem-nos se as pessoas que estão a ler isto estavam envolvidas - porque não prestava. Ponto.
A Com'Out não interessava nem a mim, nem a ti, nem ao menino Jesus nem à Deborah Kristal. E sim, a falta de patrocinadores e/ou distribuidores é um ponto que também tem a ver com isso, mas, honestamente, isso tem tanto a ver com o falhanço da revista como o Cavaco tem a ver com a conquista do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Portugal.

E nós somos malta de patrocinar a bicharada Lisboeta. Somos! Até temos um blog e tudo..

Mas não éramos leitores da Com'Out porque a revista não tinha conteúdo interessante para nós. Oh por amor de Deus, uma revista queer que não tinha sequer a certeza de ser ou não a favor da marcha do orgulho LGBTQ e que fez, inclusive, um artigo de "Prós e Contras" sobre isso como se fosse sequer debatível..

Pois então o que é que restava de editorialmente interessante na revista se claramente não era o seu ponto de vista pelos direitos queer? Os textos sobre artigos de moda e protectores solares? ..Oh para nós a olharmos para a Happy e revistas do género e a perguntarmo-nos porque é que a Com'Out, que era mais rasquinha, ainda era mais cara... Pois.

Aquilo acabava por ser uma espécie de versão de uma revista ""feminina"" mas com meia dúzia de textos "inclusivos" escritos por outras pessoas colados lá no meio. O que só por si também afastava as bichas intelectuais e as bichas machonas. E claro, fica difícil.

Ponto 2. Qüir

Ainda não lemos a Qüir; espreitámos os temas da capa mas não ficámos muito curiosos. É possível que sejam uma má amostra da totalidade, se formos investigar no site. Uma feature sobre o Boy George? hmm.. está bem.. E depois é aquela velha história das pessoas cartoon para não ferir susceptibilidades porque elas não querem dar a cara. Sou só eu que, com isso, fico logo a pensar no quanto este país (e as revistas queer deste país) ainda têm muito que andar? (não sei se o casal da capa tem fotos dentro da revista, mas "histórias de sucesso" onde se quer, de alguma forma, esconder a identidade das pessoas, parece-me ser um bocado paradoxal); enfim, também pode ser só uma escolha visual..

[update: as fotos cartoon são só na capa. Lá dentro não se escondem identidades de ninguém.]

Juramos que gostávamos que uma publicação destas viesse a ter sucesso! A questão é que parece que a equipa da revista é em parte importada da da Com'Out - o que não abona muito a favor da revista, dada a nossa prévia experiência. Embora, de facto, o conteúdo pareça ser menos generalista - o que é bom. Enfim. Cépticos mas curiosos. Avançando..

Parte 3 (a boa!). o Vídeo de divulgação.

Malta! Atenção!

Criámos este post sem nexo (do qual é possível que nos arrependamos) para falar doutra coisa completamente diferente e muito mais espectacular. O objectivo aqui não era dizer mal da Qüir. O objectivo aqui era dizer mal da Quïr por causa do video de divulgação que foi feito para promover o seu lançamento.
Isso, sim, é uma pérola daquelas que nós tanto gostamoso e que sabemos que as nossas amigas bichas provavelmente devem ter deixado escapar. Vejamos.


Ora bem, um menino tem vergonha de comprar a revista num mundo a preto-e-branco onde só a Qüir e o seu acento irritante conseguem trazer ao mundo a "liberdade das cores". A metáfora é linda, não é?

Ele lá se aproxima, compra a dita revista e começa então a observar as pessoas que também a têm - OUTRAS BICHAS! :D. Finalmente, com a magia da revista Kiwi, o rapazinho ganha o poder supremo do gaydar.
Engates furados? Heteros raivosos? Vergonhas incapacitantes? NUNCA MAIS! Podemos agora, com a ajuda deste instrumento mágico, olhar para as meninas na relva de longe e para as senhoras sentadas nos bancos e perceber imediatamente que elas, de facto, gostam é de vagina.

Mas! Mais ainda!

Também podemos engatar!!

Sim, caras amigas, com o poder da revista roxa podemos - indo nós nas nossas vidinhas ingénuas e sendo confrontados com o avistamento de um caramelo musculado lá ao longe - retirar de imediato o nosso monte de folhas mágico e, discreta mas instantaneamente (qual lenço a cair do bolso das calças de à 20 anos atrás) revelar-lhe logo ali, e sem recurso a palavras, que lhe queremos imediatamente fazer sexo oral. Não é fantástico?

O jovem do vídeo disfarça um bocadinho o entusiasmo e dá um encontrão "sem querer" a um senhor. Eis que senão quando - com recurso à mais avançada tecnologia digital - todo o video fica com côr!, sendo que finalmente o jovem descobre o amor à primeira vista (representado no video através de um rápido esgar de olhos para o rabo do colega).

Aleluia!

O propósito da revista revela-se!: deixar as amigas bichas (elas e eles) engatarem-se na rua sem os constrangimentos da nossa sociedade terrivelmente preconceituosa. Obrigado Kiwi, sabíamos que ias ser diferente da Com'Out! E este, meus amigos, é o plano de Marketing da Qüir - tão perfeitamente explicado no seu video de apresentação.

Ponto 4, Objectivamente.

Então e o que é que resta discutir?

Bem, resta relembrar que no sentido oposto daquilo que eles sugerem no video, mas na mesma através da identificação social de pessoas LGBTQ, o que acontece é que eles acabam por afastar os seus compradores porque as bichas não querem ser reconhecidas na rua. (E não, as fantasias da bicholândia Chiado/Príncipe Real não funcionam no mundo real).

Logo, ao contrário do cenário mágico gaydar-revista-engate, os compradores não vão ter incentivo nenhum para irem comprar a revista e passearem-na de baixo do braço pela rua como vemos neste video tão inspirador. Isto é, aliás, contrariamente, factor de desmotivação para os potenciais interessados que, na nossa opinião, queriam apenas usar a revista como fonte de informação e não necessariamente um estandarte de afirmação pessoal. Lição: descomplicar e menos chico-espertismo.

Mas vocês dizem: "Ah, mas as pessoas que discriminam e que são preconceituosas sabem lá que esta é uma revista gay só porque tem um nome com um acento estúpido e é roxa e tem dois homens na capa a falar de homoparentalidade!". Ao que nós respondemos: pois.

E vocês acrescentam: "Então mas e se a revista estiver apenas a incentivar, com esta lógica, as pessoas a assumirem-se e a viverem a sua sexualidade abertamente, usando a compra da revista como catalisador de uma revolução de consciência interna que se externaliza logo ali com o apoio daquele símbolo de liberdade e coragem que é a Qüir?"; ao que nós acrescentamos: vão-se foder.

A identificação social é divertida quando vivemos em sociedades inclusivas e/ou estamos dentro de uma sauna onde o que interessa é saber urgentemente quem é que fica por baixo e quem é que fica por cima. Neste cenário aquilo que resta é apenas um "Meeh, boa sorte a provarem-nos o contrário".

Até porque (em conclusão), se é para nos sentirmos bichas que contribuem para a comunidade (o que acaba por ser uma das principais razões que temos para investir e dar atenção a estes projectos cuja qualidade ainda está por provar) o que é nos diz que não é antes preferível fazer contribuições directas e/ou pagar quotas em organizações como a rede ex aequo, a ILGA, as panteras rosas etc, que fazem activismo mais directo?
Claro que isto não tem de ser necessariamente uma escolha e podemos ser bichas super pro-activas no melhor dos dois mundos e disparar apoios em todas as direcções. Mas sejamos realistas.

Enfim. Sim, é verdade, ainda temos de ler a revista, mas é como dizia o outro (uma das personalidade alternativas): valha-nos o Dezanove.

Boas leituras. *

__

PS: Depois de ler isto sinto que vale a pena reforçar que a Qüir é uma iniciativa que eu (fora video) fico feliz que tenha acontecido. E que, piadas à parte, irei de facto espreitar e incentivo a todos fazerem o mesmo.

2 comentários:

  1. Antes de opinar sobre o artigo, vou fazer de grammar nazi:
    "HÁ muito tempo, as pessoas sabiam escrever." [verbo haver - tempo]
    E "Vão À escola." [preposição]
    (Falta claro, a questão da falta de acentos em alguns casos, como "na prática")

    Acho estranho que as Bichas corajosas repudiarem tanto a identificação social, eu geralmente uso no mínimo um elemento de identificação orgulhosa todos os dias.
    Sim, já fui acusado de fazer isso pela razão transposta no vídeo para carregar a revista, mas há que ignorar essas energias negativas.

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    1. Obrigado pela correcção da frase, Bruno. Sabemos a diferença entre verbos e preposições, como deves imaginar. Mas quando os textos se alongam (como vai sendo cada vez mais o caso), o cérebro começa-se, infelizmente, a desligar.

      O Bichas não é generalizadamente contra a identificação social. (ou então não andava com capas a dizer bichas corajosas nas costas durante a última marcha do orgulho) Aliás, somos pela coragem e pelo orgulho todos os dias da semana. Gostamos é também de apontar, questionar e brincar com tudo o que é marketing dirigido à bicharada. Especialmente quando se tenta (constantemente) encapsular lá engate.

      Mas gostamos da Quïr, e gostamos de orgulho acima de tudo. Não deixamos é de questionar as coisas.

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