25 outubro, 2012

Sangue a Ferver - Ação Sábado dia 3!


Internet amiga,

Isto é uma convocatória para uma acção + protesto. O Bichas precisa de vocês e do vosso sangue (a ferver)! 

Estamos a chamar-vos, bichas amigas leitoras, e a todas as organizações activistas Queer ou outras nesta Portugália. Os detalhes da acção estão no fim.

Apresentamo-vos primeiro a perspectiva histórica da coisa porque somos bichas organizadas. Aqui vai.

História:
Para aqueles que andam meio distraídos, os homens gays Lisboetas continuam proibidos de doar sangue. Histórias como esta, embora não sendo muitas na comunicação social, acontecem com alguma frequência e todos nós na comunidade queer sabemos bem disto.

E o que está a acontecer com esta exclusão dos dadores de sangue por via da sua orientação sexual é, ou as pessoas que realmente querem dar sangue estão a mentirem sobre a sua orientação sexual (como sabemos que acontece tantas e tantas vezes noutras situações...) para o poderem fazer, ou então simplesmente - porque não se querem sentir excluídas e enganadas estão simplesmente a deixar de o fazer. Em qualquer dos casos, estamos a perder todos. Menos sangue, menos integridade, menos justiça. Ninguém devia de ter de escolher entre ser íntegro e honesto, e poder contribuir para salvar vidas.

Vejamos.

"Por favor dê sangue.. a não ser que seja gay!"
A controvérsia já é antiga e isto já nem devia sequer ser assunto no nosso país - sendo que há já uns anos atrás se aprovou finalmente uma resolução na Assembleia da Republica contra esta discriminação nos dadores de sangue. Entretanto, também, o Director do Instituto Português do Sangue, Gabriel Olim, foi finalmente demitido já que se recusava a cumprir este requisito anti-descriminação e continuava a proclamar uma postura estupidamente homofóbica. No entanto, de forma ridícula isto pouco contribuiu para que a situação mudasse.

Lisboa insiste em não querer o nosso sangue. (E dizemos Lisboa porque sabemos que, por exemplo no Porto e em alguns outros lugares isto não acontece necessariamente. Tinha de ser na capital para as pessoas se armarem em espertas e retrógradas, não era?)

Tanto quanto sabemos (e as notícias confirmam), a pergunta com carácter de exclusão que está a ser aplicada vai nas linhas de "se é homem, teve relações com outros homens?". Às mulheres, ao que parece e estranhamente, não fazem nenhuma pergunta do género.

E o truque que eles têm usado para fingir isto não acontece  e manterem esta exclusão silenciosa foi terem retirado de todos os documentos oficiais esta pergunta específica, continuando, no entanto, as pessoas que selecionam e preparam os dadores de sangue, a fazê-la quando conversam com os potenciais dadores. Sempre que a resposta é positiva, eles são excluídos automaticamente.

Ai fizeram uma luta para mudar a discriminação, despediram o nosso diretor e até conseguiram que a Assembleia da Republica aprovasse uma resolução sobre isto? Paciência?! Na-na-na-na na!

Mas pior ainda. O Instituto Português do Sangue veio esta quarta-feira dizer que isto é tudo mentira numa notícia do ionline e que não estão a excluir ninguém  - quando nós conhecemos inúmeros casos de pessoas a quem isso aconteceu ainda esta semana.

"Espera - isto não é sangue.. é sumo gay!"
No comunicado, o IPS perde-se em desculpas - de quem quer justificar sem admitir o que se passa - dizendo que "em consulta, apenas o médico pode naquele momento tomar a decisão que lhe pareça mais adequada em face dos comportamentos de risco que entender estarem em causa, nomeadamente de ordem cardiovascular, cerebrovascular ou viral". Que é como quem diz: os médicos é vos excluem porque eles sabem muito bem que os gays têm todos milhentas doenças sexualmente transmissíveis e que são um "grupo de risco.". (Vale a pena relembrar que dizer grupos de risco já nem sequer faz sentido, que o que existe são comportamentos de risco e os homossexuais nem sequer são o grupo com mais incidência, por exemplo de VIH? Parece que não...)

Mas sim, somos todos sujos e impróprios para ajudar a salvar outras vidas. Aliás, a maior parte dos meus amigos quando me cumprimentam desinfetam antes as mãos. Os vossos também, não é?

Conclusão:
O Bichas está mais que farto do Instituto Português do Sangue, desta eterna estupidez e desconversa e acha que está na hora de convocar uma acção e um protesto durante um dos horários de recolha de sangue na sede do IPS em Lisboa. Já chega de se tentar encobrir e permitir que esta discriminação continue. Pelos nossos direitos e pelos milhões de pessoas que precisam de sangue. Já.

Esta situação e estes argumentos não têm base científica nenhuma, esquecem a realidade da falta de sangue em Portugal e são, basicamente, como diz o Manuel Damas: uma questão "perfeitamente ilícita. O que deveria ser perguntado é se teve relações sexuais desprotegidas, independentemente do sexo e da orientação sexual". Simples.

Acção: 
Primeira parte: todos juntos num protesto no Centro Regional de Sangue de Lisboa
Segunda parte: Entrar para dar sangue e sermos, consequentemente todos rejeitados quando admitirmos "já termos tido relações com pessoas do mesmo sexo".

Mensagem final: "ESTE É O SANGUE QUE ESTÃO A DEITAR FORA"

Quando? Sábado dia 3 Out às 16h (no horário das dádivas que se estende até às 20h)

Visual: Roupa vermelha (simbólico de sangue!) e Cartazes do género "Este é o Sangue que estão a deitar fora" ou "O meu sangue não é pior que o de ninguém".
Confetis vermelhos e outros adereços (líquidos?) serão altamente incentivados.

E amigas, medo de agulhas não é justificação. Podem sempre ficar só no protesto bonito (também porque a ideia é sermos rejeitados) e isto é um assunto que nos afeta a todos..
"Aparentemente existem sangues mais iguais que outros"

Quantos mais formos e quantos mais forem excluídos mais forte será o impacto. Tragam companhia. Homens, Mulheres, malta T, Homo, Bis, Hetero... Esta não é só uma questão interna da comunidade queer. O sangue é um assunto que toca directamente com a vida de todos. Vamos juntar a malta toda!
Quão lindo era ter até malta não-homens gays a dizerem "Queremos e precisamos do vosso sangue!"?

Morada: Parque de saúde de Lisboa . av do Brasil, 53 pavilhão 17 (link no google maps)

Ponto de Encontro (para os interessados): Saída de metro de Alvalade às 15h30

E para aqueles que gostam de dizer que o ativismo Queer é barulhento mas pouco orientado para coisas concretas, esta é a oportunidade certa para se sentirem úteis e de mostrarem que se levantam pelo que está certo neste país. Mais concreto e objetivo que isto é praticamente impossível

Divulguem, se puderem, e juntem-se ao gang. Será, com toda a certeza, divertido e acima de tudo relevante.
(Balões de água vermelha era uma ideia deliciosa e secreta).

Dúvidas, sugestões e comentários deixem-nos aqui no Blog, ou por mensagem na página do Facebook ou por e-mail (BichasCobardes [at] googlemail.com). Estamos cá para isso.

Bichas Corajosas, preocupadas e pro-activas, em força!

Update: Notícia no Dezanove “Sangue a ferver”: Activistas marcam protesto pelo direito a doar sangue"

Update 2: Evento no facebook! Juntem-se!

--- Testemunhos recolhidos na Internet (comentários às noticias do Dezanove)

Anónimo
Dom, 28/10/12
Eu já deixei de ser sangue. Por um acto altruísta não estou para ser humilhado e que me digam que o meu sangue é de segunda categoria. Se não serve, fico eu com ele, muito obrigado.

Anónimo
Qua, 24/10/12
Eu queria doar sangue mas é precisamente por estas situações que não o faço. Não me importo de preencher questionários a dizer que sou gay, mas ser humilhado e recusarem o meu sangue porque é de "segunda categoria"? Passo!Miguel @ Dezanove

Miguel
Qua, 24/10/12
Na Faculdade de Medicina Veterinária da UTL passou-se a mesma situação: quando me estavam a fazer o inquérito para a dávida de sangue, a médica pergunta "já teve relações com prostitutas?" ao qual respondi não. De seguida perguntou-me "E com homens?" e eu, que não tinha entendido bem a pergunta, até lhe perguntei "Com prostitutos? Não." e a médica insistiu "Não, não, com homens." ao qual respondi que sim. Disse-me que estava impedido de dar sangue. Ainda tentei ripostar, dizendo que tinha o mesmo parceiro há mais de seis meses e que tinha feito análises recentemente, mas não deu em nada.
É uma pena que assim seja.

Gonçalo
Qua, 24/10/12
Olá... é verdade... também há já vários anos (depois de mais de 12 dádivas) no Hospital Amadora Sintra me perguntaram a orientação sexual para logo me recusarem a dádiva...

Se nunca lhe perguntaram é porque não cumprem as regras (mas ainda bem que não as cumprem, porque as regras são ilegais, como bem se lê no texto).

Anónimo
Qua, 24/10/12
Um dia vão-lhe perguntar. Aí tem duas opções: mentir e continuar a ser dador ou dizer a verdade e deixar de ser dador. Cristalino como a agua destilada. Eu fui dador durante anos e também nunca me perguntaram. Quando perguntaram eu disse a verdade. Nunca mais me aceitaram. Fui eliminado. Com pena minha.

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